sábado, janeiro 22, 2011

Prática leitora multimidial


1ª. etapa: 
Solicita-se que alunos de 7ª série formem um círculo e contem, individualmente, sobre algum fato que tenha ocorrido na semana anterior. 

2ª. etapa:
Após todos narrarem sua história, lhes é pedido que peçam para uma pessoa bem idosa de sua família ou vizinhança, que lhes conte um fato acontecido na sua juventude.

3ª. etapa:
Os alunos devem anotar tal qual lhes foi narrado o fato e trazê-lo para a sala de aula a fim de apresentá-lo à turma. 
4ª. etapa:
Após a leitura da história antiga, os colegas irão sugerir alterações no texto. Isto ocorrerá com todas as histórias trazidas pelos alunos até que eles sintam que não há mais nada para ser feito no sentido de melhorar a história.

5ª. etapa:
A seguir passam para a correção ortográfica e gramatical através da consulta ao dicionário e às gramáticas com auxílio do professor sempre que for necessário.

6ª. etapa:
Pronta esta etapa, dirigem-se à sala de informática para digitarem, formatarem, organizarem como livro e imprimirem os textos.

7ª. etapa:
O livro pronto com todas as histórias, é levado para a biblioteca para ser lido pelos alunos das outras séries.

terça-feira, janeiro 18, 2011

CONTO: " O PESADELO

       Manoel estava agachado no cercado de cebola, fitou a sombra de Edinelza, alta, esguia e de chapéu. Ficou ali por horas, durante todo o seu período de trabalho observando e conversando com seus botões curioso em saber o que faria uma moça tão jovem e bonita trabalhando num cercado, ao sol escaldante, em vez de estar a beira-mar apresentando suas curvas que imaginava sob as roupas folgadas de serviço. Edinelza estava sempre séria e cumprindo à risca os horários. Seu canteiro era sempre impecável. Então concluiu: Edinelza não era moça de se laçar com sovéu.
       Terminada a colheita da cebola Manoel nunca mais vira Edinelza, mas o semblante da moça ainda permeava sua memória. Manoel estava sempre a cantar “ Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, aquela menina que vem e que passa”. 
       Dia 09 de janeiro, domingo de sol, bom para estar na praia, Manoel acordou cedo, vestiu sua melhor roupa, apurou Neusa e seus dois filhos, João Vitor e Maria Alice, para prestigiar o seu vizinho, festeiro na capela Nossa Senhora de Lurdes, festa tradicional na localidade de São Simão, 16 km da sede do município de Mostardas, onde Manoel morava com sua família.  
       Manoel, Neusa e as crianças chegam no salão paroquial da capela, onde se realiza a festa.  No balcão da copa do salão paroquial, Manoel encontra um velho conhecido, o Chicão, que, entre um gole e outro de cerveja, conversam sobre o preço da cebola, gado, arroz, e, então, Manoel o convida para ir, qualquer dia destes, ao seu escritório, na avenida Padre Simão, para acertarem negócio. A mulher e as crianças procuram conhecidos para ficarem conversando A música começa: “tá se achando bacana, gostosa, mulherão, pintou saudade tô sabendo vai bater no meu portão”... O povo se anima e começa a dançar. E assim o baile inicia. Salão cheio. Manoel se despede de seu amigo e vai ao encontro de Neuza, que lhe faz sinal para dançar. Esbarra em alguém. Ao levantar a cabeça em pedido de desculpas reconhece Edinelza, sente um frio, um calafrio, um arrepio a percorrer-lhe o corpo, o coração parece-lhe sair pela boca, o pedido de desculpas sai tremido e quase não se ouve. Mas Edinelza nem se quer se importou com Manoel e segue seu destino sem olhar para trás.
       - Vem amor!, diz sua esposa e pegando-o na sua mão e arrastando-o para a pista de dança, lotada de pares dançarinos.
             Enquanto dança com Neuza seu olhar procura pela moça que sumiu na multidão. De repente vê, no meio da pista, Edinelza, com tubinho vermelho drapejado, cabelo arrumado no salão, pele bronzeada, scarpan vermelho, vindo na sua direção. Estende os braços confortando-a em seu corpo. Num movimento delicado e harmônico dançam pelo salão como se flutuassem em nuvens de algodão doce. A banda toca outra vez:“ te dei o mar, te dei meu coração” Sinais de Luan Santana. Naquele ritmo frenético dos corpos, exala o cheiro do perfume de Edinelza, Biografia, Boticário. Fica alguns minutos colado ao seu rosto exalando a fragância, que lhe faz lembrar das flores do jardim de sua mãe, onde esta, cultivava azaléias, rosas vermelhas e amarelas, primaveras ou manacás, palmas e jasmim. O suor escorre pelos corpos, mas o calor sufocante é compensado pela euforia do momento. De repente ouve-se gritos. Abruptamente, um homem vestido de bombeiro, semelhante ao jogador Bruno do Flamengo aproxima-se e agarra Edinelza pelo braço de modo grosseiro e estúpido e, aos gritos:
       - Vadia! Você está me traindo com esse vendedorzinho de cebola! Funkeira!
        Manoel tenta explicar que nunca houve nada, que só estão dançando, que é casado e tem dois filhos, mas o homem continua a gritar e a ameaçar Edinelza de morte. Dá-lhe tapas em sua delicada face e insultando-lhe como a uma ordinária. Manoel pede calma, ao homem que sente-se ultrajado em sua honra, mas leva dois tiros. Começa, lentamente, a cair no meio do salão, seus olhos se turvam, e se fecham tornando escuro ao seu redor, mas continua a ouvir gritos e corre-corre que se vão distanciando rapidamente, vindo a seguir o silêncio. Vê Edinelza debruçada no seu peito chorando e chamando-lhe:
        - Manoel? Manoel?
        - O que foi mulher?
        - Você está suando, gritando e chamando Edinelza.
       Neuza fica com uma pulga atrás das duas orelhas e questiona Manoel:
       - Quem é Edinelza, seu Manoel? Ande se explique.
              Assustado e procurando a se recompor de seu mal-estar, Manoel entende que teve um pesadelo.
         - Vamos, seu Manoel, quem é Edinelza?
        - Ora! Eu não sei quem é. Então ainda com a sensação de ter levado tiros, coloca sua mão próximo ao peito e sente um enorme calor. Arruma o travesseiro, o lençol e procura a melhor posição para dormir. Num sentimento de angústia e dúvida cai em sono profundo.
       Neuza aceita a resposta de Manoel, afinal, nunca lhe dera nenhum motivo para duvidar de sua lealdade conjugal.
        - Alô!
         - Bom dia! Bem-vindo ao seu Guia Astral João Bidu. Se quiser saber previsões de seu horóscopo, disque dois, interpretação de sonhos, disque três, se quiser falar com uma de nossas atendentes, disque quatro.
        - Hum... Dois.
       - Bem vindo, ao seu guia astral horóscopo. Digite sua data de nascimento.
       - 26/09/67.
       - Ok. Agora, você ouvirá as previsões do dia de seu signo.
       - Quem  trabalha com esporte ou diversão saberá como cativar a sua clientela. Problemas de ordem familiar vão gerar preocupação. Boa sorte para lidar com eventos que reúnam um grande número de pessoas. Cor: preta. Para saber mais previsões sobre amor, saúde, dinheiro, disque um.
       - Um.
       - Suas previsões: Signo superorganizado. Você engole seco, quando tem de conviver com alguém que não acompanha o seu pique. Isso até quando sua paciência aguenta. O virginiano é uma pessoa sincera e tem um jeito um pouco sério. Só que, às vezes, a seriedade pode ser confundida com frieza. Mas, quem vai pelas aparências, engana-se e muito. Mesmo que não mostre o que sente, Virgem também se emociona, ri, chora, sofre, ama. É que a sua mania de analisar o que rola ao seu redor faz com que pese seus próprios gestos, deixando até de atender o seu coração. Para viver bem no amor, é preciso conter seu jeito crítico.” 
Elemento: Terra
Astro regente: Mercúrio
Paraíso astral: Capricórnio (22/12 a 20/01)
Santo: São Roque
Anjo: Rafael
Flores: Açucena e Cravo

Números: 5 e 8
Talismãs: Estrela e Buda
Pedras: Ágata e Amazonita
Dias: Quarta-feira e Sábado
Essências: Lavanda e Jasmim
Verbo: "Eu analiso"
         Manoel distrai-se com a consulta do horóscopo. Ao voltar à realidade, percebe que o sonho afetou-lhe muito suas emoções e pede à secretária:

       - Fátima! Por favor, liga para a “Alma da Terra” e pede um ramalhete de cravos. Obrigado!
       Após cumprir a determinação do chefe, Fátima pergunta-lhe onde quer que coloque os cravos. Manoel, parece meio sonso, demora para responder, e então diz:
       - Aqui em cima da mesinha de centro.
       - Seu Manoel, seu Chicão lhe aguarda. Diz sua secretaria.
       Manoel está anestesiado, pois tudo parece estar em câmera lenta e balança a cabeça em sinal que sim.
       Olá! Tudo bem seu Chicão? Como foi de festa?
       - Bem! E tu não gostastes da música? Saiu cedo.
       - As crianças queriam ir para casa e a Neuza tinha que fazer umas entregas do AVON. Eu estava cansado mesmo, tive uma semana muito cheia e não tenho durmido direito ultimanente.
       - Isso só pode ser mulher. Homem quando esta assim é porque tem rabo-de-saia. Mas o meu médico me receito um remedinho muito porreta é um tal de Neo Amitriptilin. Se quiser eu deixo o nome com sua secretária.
       - Que é isso, seu Chicão? Sou homem sério, de família. São vinte anos de casamento, tenho dois filhos maravilhosos, só me dão orgulho. Minha insônia são os negócios.
       - Sei, seu Manoel. Também sou homem e entendo dessas coisas. E percebi que tu estava de olho cumprido numa moça lá na festa.
       - Que é isso seu Chicão?
       - Edinelza está muito bonita, moça educada, séria, puxou a mãe. Já o pai é um desses que anda de bar em bar, não para em serviço nenhum.
        Manoel não queria interromper, pois ao ouvir o nome já sentiu um calor no peito.
       - E mãe o que faz?
       - Ela é merendeira numa escola do município.
       - E quantos anos tem a moça?
       - Olha quando ela frequentava minha casa, era muito amiga de minha filha Joana, ela tinha uns 14, hoje deve ter uns 18 ou 19.
       Manoel parecia estar nas nuvens.
       - Eu nunca conversei com a moça.  Só vi ela uma vez, quando visitei o cercado do seu Zé.
       - Ela agora parece que está noiva de um Bombeiro. O rapaz parece que é de Tramandaí, dessa região. Rapaz de sorte encontrar uma moça séria como Edinelza.
             Manoel sentiu com se um balde de água fria fosse jogado em seu peito naquele momento e lembrou do sonho, dos tiros, das previsões do seu horóscopo “...Problemas de ordem familiar vão gerar preocupação” e mudou logo de conversa.
       - Mas diz aí seu Chicão, vamos negociar a cebola?
       - Dê o teu melhor preço e fechamos negócio.
       Nisto, entra Fátima para avisar que Neuza está lhe aguardando.
       - Manoel pede para que ela entre, falou Chicão.
       - Bom dia, Seu Chicão! Como vai? E a família? Tudo bem?
       - Tudo. Lá em casa tudo com saúde e estamos indo hoje para a praia. E tu sempre bonitona. Meu amigo é um homem de sorte. Se ele não tivesse chegado antes de mim naquele baile... Lembra, lá na Tapera? Isso em 79. Nossa, como tempo passa! Mas já vou indo. Tudo de bom. E dá um longo abraço em Neuza.
       Manoel sente um desconforto e desconfia daquela íntima revelação e se pergunta:
       - Será que Chicão foi ou é apaixonado por Neuza?
       - Que flores lindas? Exclama Neuza cheirando-as. E continua:
       - São para a moça do sonho?
       - Que é isso meu amor?! São para você. Hoje estamos de aniversário de casamento. Tu esqueceu? Ia levar para enfeitar a mesa do almoço. Eu te amo!
       Neuza fica com ar de desconfiada, pois Manoel nunca foi assim tão carinhoso e se pergunta:
       - O que estará acontecendo?, mas resolve retribui o beijo de Manoel.
       - Quem é Edinelza? Acho que é esse o nome que tu estava gritando ontem. Era umas quatro horas e tu me assustou. Nossa!, parecia que estava socorrendo alguém que tinha levado uns tiros! Estava caído agonizando...
       - Edinelza é a filha da sua amiga Glória, lembra?
       - É ela está muito bonita!
       - Quando eu a vi sozinha na festa fiquei surpreso, porque soube que ela está noiva de um dos bombeiros.
       - É, essa aí não sei não. Ela anda com aquela lá da vila. Parece que está seguindo o mesmo caminho. Esses dias, fui fazer uma entrega e encontrei as duas atravessando a praça. Era umas oito da noite.
       - Quem sabe só estavam voltando para casa, conclui Manoel.
       - Voltando ou indo. Deus sabe lá onde? Conclui Neuza com tom irônico.
       - Vamos Neuza, pegue as flores e vamos almoçar.
       - Obrigada, são lindas! Eu te amo!
       - Eu também.